Histórias

terça-feira, outubro 13, 2015

Sobre corações

http://iamjapanese.tumblr.com/ - Gustav Klimt
"What happens when people open their hearts?" … "They get better.” • Haruki Murakami

A verdade é que um conhece muito bem o que o outro sente, eles finjem que não, fingem que são isolados, que são opostos, partes de coisas diferentes, ou partes que não se encaixam. Eles podem até jurar que nada importa, um não vale nada para o outro, e eles juram. Brigam, se estranham, são como briga de gatos, aquelas brigas fazem uma barulheira e até derramam sangue no chão, abre ferida, quebra pata, mas o gato se recupera, e daqui a pouco está lá em cima do telhado fazendo barulheira, cruzando, depois fazem mais barulheira, brigando. Eles não são gatos, mas, às vezes, finjem ser. Tentam não se falar, fazem-se de indiferentes.
Indiferenças vão e vem, boomerangs de indiferenças, arranham-se.
O que eles não sabem é que é incontrolável, talvez eles até saibam que é incontrolável, mas não admitem. Eles admitem por uns minutos, depois garantem que se controlam. Garantem que estarão sozinhos, abandonarão um ao outro. Um mundo a parte do outro. Vou deixa-la, ela é irritante. A abandono, vivo minha vida. Se odeiam, eles se odeiam demais, mas ódio não consegue ficar muito tempo perto deles.
Qualquer coisa é muita coisa para aquela moça convulsiva. Sua carne lateja por causa de palavras que, talvez, nem foram ditas. Sua mente flutua, viaja no espaço, cria o tempo, revive as lembranças. Ela o devora, o atira para longe de si, e volta como boomerang. Seu cabelo macio ganha vida e implora para ser tocado, puxado, aspirado. Ela ali parada sem entender o que já entendeu tantas vezes, mas insiste em todas as vezes a voltar a esquecer.
Ele é aquele cara que se acha o homem, é impressionante, maravilhoso, palavras dele. Finje não sentir o que sente. Foge, foge, foge, vai para longe, entra na caverna e fica lá, a tortura com a sua própria tortura. Tortura feita com tortura. Tenta estar em outros lugares, adorar coisas, afundar pessoas, mas não é tão fácil quanto ele quer que seja. Não é simples, ele sabe, mas finge não saber. É forte, tenta ser o tempo todo, nem sabe porque precisa, mas sente necessidade de ser forte e estar distante.
E os corações...
Os corações caíram de andares incontáveis, caíram repetidas vezes, estão fechados em salas brancas tomando remédios para ficarem bem, mas os remédios não os deixam bem, eles só pioram e pioram. Eles são cortados, retalhados, cheios de pontinhos pretos. Os corações sentem tudo, são reprimidos por sentirem demais. Não! Não! Você não pode ser assim, SEJA FORTE! De tanta força eles ficam fracos, não veem mais o que veem, eles suprimem o que veem, mas não deixam de sentir, talvez se anestesiam. E as mentes, as células, os órgãos, tudo trabalhando, porque fazem a sua função, recebem sinais, informações, agem como devem agir. Os amores circulando pelo corpo, por todo ele, mostrando que se quer aquilo, é aquilo mesmo. Os olhos veem, a mente interpreta, foram criados sinais do que se deve fazer, faça o que tem de ser feito, faça, faça! Não faz. O impulso de pularem convulsivamente um em cima do outro, não tirando nada, mas tirando tudo. Não fazem porque são fortes, eles são fortes e negam o que está sendo pedido por tudo o que se é. Esquecem que eles são as suas células, seus atómos, seus elétrons.
Eles se amam e sentem compulsivamente isso. Sentem gritando em cada pedacinho. No entanto, sempre se afastam, sempre fogem, e sabem tão bem que é apenas fuga que logo acabam voltando um para o outro. Que seja como se não fosse nada, mas aquela sensação de estar simplesmente na presença um do outro é o que os move. Os impulsiona a seguir em frente. Até quando já não existem, ainda se amam nos pequenos pedaços, e os pequenos pedaços são tantos que são maiores do que seus medos de se entregarem. As palavras infinitas. Infinitas palavras. Não sabem o que dizer, não dizem nada, mas lá dentro suas pequenas partes sentem, então ficam apenas quietos, porque o que sentem transcendem o que falam.

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